Comunicado de Imprensa
Abrir caminhos para melhorar a produção de ciência nas universidades públicas portuguesas é o principal objetivo do Encontro Nacional “Universidades: Chave para o Futuro” que se irá realizar no Iscte – Instituto Universitário de Lisboa no próximo dia 7 de dezembro. O encontro é organizado pelo Iscte em parceria com o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas – CRUP, a Comissão dos 50 anos do 25 de Abril e a RTP, tendo o alto patrocínio da Presidência da República.
Organizado para assinalar os 50 anos da reforma lançada pelo ministro Veiga Simão no Governo de Marcello Caetano, da qual resultou a criação do próprio Iscte. O encontro será aberto pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, e pelo presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva. A intervenção final será da ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato (
ver Programa em anexo
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“Aumentar e melhorar a produção científica nas universidades, bem como a sua transmissão ao ensino – e, em consequência, à sociedade e à economia – é um dos temas deste Encontro para refletir e debater a centralidade da universidade no desenvolvimento futuro do país”, afirma a reitora do Iscte, Maria de Lurdes Rodrigues, que concebeu esta celebração dos “50 Anos de Reforma das Universidades – 50 anos de Democracia – 1972 a 2022”. Segundo a reitora, apesar de as tutelas do Ensino Superior e da Ciência se encontrarem reunidas no mesmo ministério desde 2002, faltam em Portugal políticas que promovam a articulação entre a ciência e de ensino superior: “Há todo um debate a fazer para que se possam definir novas políticas públicas de ensino superior e ciência”.
Reforçar a ciência nas universidades não aumenta a despesa pública
“Nestes vinte anos não houve políticas comuns que promovessem a convergência dos dois setores; por exemplo, medidas de articulação entre a carreira de investigação e a carreira docente, que potenciassem a articulação entre o trabalho científico e o ensino nos diferentes ciclos de estudos superiores”, afirma Maria de Lurdes Rodrigues. “São por isso necessárias políticas que reconheçam o papel das universidades na ciência e lhes proporcionem condições para fazerem melhor, em domínios como o do estímulo ao emprego científico ou apoio a áreas do conhecimento emergentes. Políticas que estimulem a internacionalização, quer da investigação, quer do ensino. Políticas que apoiem o desenvolvimento de projetos de investigação estratégicos para as instituições ou para o país.”
Maria de Lurdes Rodrigues acredita que a ministra Elvira Fortunato e o secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Teixeira, são recetivos a propostas deste tipo. “Esta é a equipa ministerial com mais vocação para fazer a grande reforma de ligar a ciência ao ensino superior”, afirma.
Para a reitora do Iscte, as políticas em causa deverão ter, desde logo, uma base orçamental. “As universidades devem ter nos seus orçamentos receitas do Orçamento de Estado numa rubrica consignada especificamente ao desenvolvimento da investigação e ciência – e não apenas acesso a verbas da Fundação para a Ciência e Tecnologia – FCT”, afirma Maria de Lurdes Rodrigues. A reitora defende que as universidades devem propor que estas verbas “possam ir até 10%” do seu orçamento atual.
“Seria muito importante”, afirma. “Permitiria, por exemplo, as universidades definirem estratégias de internacionalização das equipas e centros de investigação, sobretudo numa altura em que os financiamentos da FCT são claramente insuficientes e desajustados – não permitem sequer o funcionamento regular das infraestruturas científicas”. Tal dotação não representa necessariamente um aumento da despesa pública, mas tão somente a utilização de verbas que já se encontram hoje no orçamento da Ciência dentro do mesmo ministério.
Novas articulações entre as carreiras de docentes e investigadores
“Há um aspeto que é fundamental para o futuro: abrir novas possibilidades de articulação entre as carreiras de docentes e de investigadores”, sustenta Maria de Lurdes Rodrigues. “Devem ser dadas melhores condições aos docentes para desenvolverem os seus projetos de investigação, quer em termos económicos, quer através de mais sabáticas”. Quanto aos investigadores, “deve-lhes ser facilitado, ao longo da carreira, dar aulas, o que enriquecerá a componente letiva dos cursos”.
A reitora defende, “para que o sistema progrida e as universidades possam produzir mais ciência, que as duas carreiras se mantenham distintas mas que construam articulações, formas de comunicarem entre si. Há todo um debate a fazer sobre estes temas para que se possam definir novas políticas públicas de ensino superior e ciência”.
Maria de Lurdes Rodrigues considera igualmente importante que o país reconheça institucionalmente o peso que as universidades têm na produção científica nacional, cerca de 40% do total. “Não faz qualquer sentido que o
Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), órgão consultivo do Governo, não inclua um representante das universidades, como o presidente do Conselho de Reitores”, afirma a reitora do Iscte. “O peso simbólico do reconhecimento institucional é relevante: estou certa que a senhora ministra Elvira Fortunato é sensível a isto”.
Quatro painéis temáticos e uma mesa-redonda
No Encontro Nacional “Universidades: Chave para o Futuro” haverá ao longo do dia quatro painéis temáticos. Em cada um deles será apresentado um documento elaborado por um perito na área, seguindo-se um debate por atores do sistema universitário (
ver Programa em anexo
).
O primeiro painel será dedicado à “articulação entre a produção de conhecimento, a sua difusão e transferência para a sociedade”. O autor do documento que lançará o debate vai ser o professor Pedro Saraiva, vice-reitor da Universidade Nova, cabendo a coordenação do debate a Rui Vieira de Castro, reitor da Universidade do Minho. Participarão Nuno Bicho (UAL), Maria João Pires Rosa (UA), Ricardo Paes Mamede (Iscte) e Cláudia Cavadas (UC).
A “Internacionalização e o português como língua de conhecimento” será o tema do segundo painel. Lançado por Margarita Correia, da Universidade de Lisboa, será coordenado por Hermínia Vilar, reitora da Universidade Évora, e contará com a participação de António Fidalgo (UBI), António Branco (UL), Ana Paula Laborinho (OIE) e Isabel M. Duarte (UP).
“O futuro do mérito e da meritocracia no acesso e no sucesso”, tema do terceiro painel, será lançado por Paulo Pedroso, do Iscte, e terá a coordenar o debate João Sàágua, reitor da Universidade Nova. Intervirão Alexandra Leitão (UL), António Magalhães (UP), Tiago Neves Sequeira (UC) e Margarida Mano (UCat).
O painel sobre “O espaço da inovação pedagógica no contexto da digitalização do ensino” começará com a apresentação de um documento por Manuel João Costa, da Universidade Minho. A coordenação do debate será de Amílcar Falcão, reitor da Universidade de Coimbra, e terá a participação de Carla Oliveira, reitora da Universidade Aberta, Sofia Marques da Silva (UP), Fernando Remião (UP) e Paulo Quaresma (UEv).
Antes do encerramento haverá uma mesa-redonda para debater o tema “Mais Ciência na Universidade”. Sob a coordenação do reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira, quatro vice-reitores com o pelouro da Investigação e Ciência irão debater propostas concretas para uma agenda que o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas – CRUP formalizará ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
50 anos de alargamento do Ensino Superior a todo o território nacional
O encontro dedicado aos “50 Anos de Reforma das Universidades – 50 anos de Democracia – 1972 a 2022” assinalará a Reforma das Universidades lançada por Veiga Simão em 1972, a criação do Iscte-Instituto Universitário de Lisboa e os 50 anos de Democracia, na sequência do 25 de abril de 1974.
Em 1973, através do Decreto-Lei n.º 402/73 de 11 de agosto, serão criadas mais quatro instituições universitárias: Universidade do Minho, Universidade de Aveiro, Universidade Nova e Instituto Universitário de Évora. E serão lançadas seis instituições politécnicas: Covilhã, Faro, Leiria, Setúbal, Tomar e Vila Real, as quais, nos anos seguintes, se irão instalar e iniciar as suas atividades nas respetivas cidades. É desta forma quebrado o monopólio universitário do Porto, Coimbra e Lisboa, estendido o ensino superior a todo o território nacional e dados passos definitivos na concretização da reforma das universidades.
No âmbito da iniciativa será transmitido na RTP um documentário sobre a reforma de 1972, as medidas que foram lançadas nos primeiros anos de democracia e o ritmo e os principais momentos da evolução da universidade nos últimos 50 anos. Realizado pelo jornalista José Manuel Portugal, o documentário terá como fontes o arquivo de imagens da RTP, notícias da imprensa da época, testemunhos de peritos e protagonistas e documentos fornecidos pelas instituições.